Ela está na paragem. Gorda. Carregada. Suada pelo peso.
Suando porque é pobre e merece cheirar mal. Mesmo sem trabalhar. Cheiram todos
mal.
O autocarro não vem.
Há greve.
As pessoas na paragem vão-se acumulando. Aconchegam os seus cheiros.
Juntinhos.
Começa a chover.
Debaixo da cobertura da paragem tornam-se compactos. Ninguém
se quer molhar. Todos têm guarda-chuva. Ninguém o abre. Receiam por medo à
diferença.
O dia passa. Eles tiveram sempre na paragem. Fazendo uma
ligeira pausa para almoço.
No fim do dia, gorda, carregada e suada, ela regressa a
casa.
Prepara o comer e pergunta ao marido, “como foi o teu dia?”.