segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os Túneis III

A presidente aderiu ao facebook. Era a voz de todos. Podia agora aceitar todos como amigos. Ver que fotografias tinham. Que comentários faziam. Que causas apoiavam.
Queria conhecer as vozes que a compunham.

Lembrou-se do seu discurso que não era seu. Tinha a aplicação do facebook no telemóvel. Clicou “upload”. Carregou o discurso para a sua página. Depois, guardou o telemóvel, no bolso de trás das calças. Os assessores chamavam-na. Ela pediu um momento. Tinha de ir à casa de banho. Não o disse assim. Foi vaga. “Esperem só um pouco, por favor”. Entrou na casa de banho. Dirigiu-se a uma das cabines. Fechou a porta. Desapertou as calças. Puxou-as para baixo.
Ouviu um barulho, na água da retrete.
A presidente, de calças e cuecas para baixo, via o seu telemóvel afundar-se, com o discurso, os amigos, os likes e os comentários e os likes nos comentários. A verdade, era uma mentira afundando-se na merda da água.

Sim, a poesia tem os seus momentos.

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