segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Discurso II

Entregaram o discurso à presidente. É preciso medo, disseram-lhe.
O medo ainda pertence ao lado animal. A obediência tem o seu lado irracional.

A presidente leu o discurso. Deu-lhe uma voz. Decorou-o primeiro. Conferiu-lhe verdade depois.
Recomendaram-lhe falar em inglês.
O povo aplaudiu, sem perceber. Ela falava noutra língua. Era boa presidente. Falava línguas que eles não sabiam. Era-lhes superior.
O resto aplaudiu igualmente. A presidente era um deles. Também sabia falar noutra língua. Era-lhes igual.
A presidente inspirou, antes da última frase do discurso. Ensaiara-a em frente a um espelho. Queria gritar sem o parecer fazer. Ser imponente, sem subir a voz.

“We Stand on the Edge of Oblivion”
“We Stand on the Edge of Oblivion”
“We Stand on the Edge of Oblivion”

O medo domestica os animais.

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