quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cidade Estagnada II


Ela está na paragem. Gorda. Carregada. Suada pelo peso. Suando porque é pobre e merece cheirar mal. Mesmo sem trabalhar. Cheiram todos mal.
O autocarro não vem.
Há greve.
As pessoas na paragem vão-se acumulando. Aconchegam os seus cheiros. Juntinhos.
Começa a chover.
Debaixo da cobertura da paragem tornam-se compactos. Ninguém se quer molhar. Todos têm guarda-chuva. Ninguém o abre. Receiam por medo à diferença.
O dia passa. Eles tiveram sempre na paragem. Fazendo uma ligeira pausa para almoço.
No fim do dia, gorda, carregada e suada, ela regressa a casa.
Prepara o comer e pergunta ao marido, “como foi o teu dia?”.

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